quarta-feira, 30 de março de 2011

Fukushima é logo ali

A enorme tragédia que atingiu o Japão reacende a polêmica em torno da energia nuclear. Não sei o que você pensa sobre essa fonte de energia, mas eu particularmente me oponho. Vamos combinar que esse papo de nuclear cheira a mofo e lamentavelmente ainda não saiu de cena. Tristes páginas da nossa história ocorridas em Hiroshima, Nagasaki e Chernobyl deveriam ter sido viradas junto com o que teve de pior no século passado. No entanto, graças aos resistentes militarismos nacionais e aos modelos de desenvolvimento antiquados é que esses frankensteins continuam circulando.

É incrível como a indústria nuclear mobiliza incontáveis recursos para tentar nos convencer que é uma alternativa limpa, barata e necessária de geração de energia, mas não podemos esquecer que a falta de segurança técnica, falta de destinação adequada para rejeitos e de medidas de retirada de populações em caso de acidentes são graves. O governo brasileiro anunciou que pretende terminar a construção da usina nuclear Angra 3. É isso mesmo, nossa Fukushima é logo ali. E é uma pena porque Angra deveria ser conhecida apenas por suas belezas naturais.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Só entre nós

Pampelum é uma cidade (na verdade uma cidade-estado, um pequeno país no interior de um grande continente, mas não se incomode quando eu chamar de cidade) muito especial, com muitas peculiaridades. Quando passeamos por Pampelum uma das coisas que costumam chamar atenção é a ausência de imagens e templos religiosos. É isso mesmo, não adianta procurar uma grande catedral na praça central que você não encontrará. Muitos visitantes deixam a cidade com a impressão de que os pampelúmicos não são religiosos. Mas quero contar um segredinho para você.

Na verdade, os pampelúmicos possuem uma vibrante espiritualidade que é imperceptível por muitos que estão acostumados com as expressões convencionais. É comum entre os pampelúmicos haver uma grande apatia diante de discussões religiosas e grande cuidado com a ostentação de ícones que podem dividir ou ferir a consciência do outro, principalmente em espaços públicos. Isso porque Pampelum historicamente vem recebendo muitos refugiados de cruéis guerras religiosas que dividiram famílias, oprimiram minorias e mataram milhões de pessoas. São corações feridos que encontraram remédio nessa cidade. Por isso é comum ouvir o jargão: “Religião não se discute”. Mas isso não quer dizer que ela não seja importante, não seja vivida, entende?

Religião fundada no exclusivismo e medo realmente não tem lugar ali, mas existe algo realmente mais profundo, inclusivo e encantador que vale a pena ser desvendado. Em Pampelum Deus brinca de esconde-esconde. Respondendo a um questionamento sobre sua religião, Einstein disse o seguinte: “Tente penetrar, com nossos limitados meios, nos segredos da natureza, e descobrirá que por trás de todas as leis e conexões discerníveis, permanece algo sutil, intangível e inexplicável. A veneração por essa força além de qualquer coisa que podemos compreender é a minha religião. Nesse sentido eu sou, de fato, religioso”. Será que ele experimentou uma espiritualidade semelhante a dos pampelúmicos? Intuo que sim.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A voz do burro

Essa é minha quarta tentativa de manter um blog (sei que esse dado pode ser um pouco desencorajador). Na primeira tentativa, a minha preocupação era a reprodução teológica. Já na segunda, comecei a refletir sobre a teologia e lentamente me abrir para outros temas, dialogando, questionando, propondo, enfim, soltando pipas com um amigo. Na tentativa seguinte, estava modificado e deslocado, ansiando por exílio num outro mundo onde as fábricas pintassem de todas as cores suas fumaças. E aqui estou eu, como disse no começo, na minha quarta tentativa.

Provavelmente, essa nova empreitada terá suas especificidades, mas sinceramente não sei quais serão. Isso é estimulante, porque tanto eu quanto o leitor (espero tê-lo) as descobriremos juntos. O nome do blog brinca e força essa conotação do “não-saber”. Zurro, a voz do burro. Talvez, seja justamente nessa nuance agnóstica que essa quarta tentativa mais se distancie da primeira, embora carregue toda a minha historicidade. No Zurro, temas serão repetidos, modificados, desvendados, transpostos, como faz um compositor com os temas da sua música.

Recebi de uma amiga no meu último aniversário um livro com a seguinte dedicatória: “Espero que você encontre (neste livro) devaneios, fantasias, criação, originalidade, utopia, sonho, idílio, miragem, êxtase, força, vivacidade, luminosidade, contestação, contradição, inconformidade, vigor, enfim, tudo o que possa dar um pouco de sentido à condição humana”. Longe de pretender uma comparação com o gênio Fernando Pessoa, transcrevo a dedicatória apenas como uma prece para que juntos encontremos por aqui esse sentimento compositor de vida na discussão dos mais variados temas.

Vamos, vamos, isso foi só para ir preparando as coisas...